Conhecida pela comunidade como chafariz, a bonita torneira pública está localizada
no terreno do campo de futebol na entrada da vila, em frente à igreja de São Sebastião.
Maio de 2013 © Domitila Bercht Abril de 2011 © Domitila Bercht
Os moradores com quem conversamos todos se lembram do chafariz desde que conhecem este lugar -
os que aqui nasceram e os que aqui um dia chegaram.
Quando a pergunta é sobre "aquela torneira" vem imediatamente a correção - o chafariz!
.....
"O chafariz existe
há muitos anos, é muito antigo! Quando eu era menina já existia.
Ainda tem
água e tem moradores que lavam o carro ali"
(depoimento - Maria das Graças Fest - "Graça", outubro de 2021)
...
"O chafariz é muito antigo! Já
tentaram roubar! Teve inclusive um governador que quis tirar e ninguém deixou.
Foi uma briga! A torneira roubaram.
(depoimento - José Alberto Armondi, novembro de 2021)
(depoimento - José Alberto Armondi, novembro de 2021)
...
"Quando eu cheguei (1945) já tinha o chafariz ali.
As casa tinham água encanada...
Usava pra
lavar o rosto, pra se lavar depois do futebol que jogava logo ali mesmo.
Perguntamos ao Luiz Teixeira sobre uma peça fixada na parte inferior
da coluna do "chafariz" e ele nos respondeu:
Tinha um
toco de ferro que era abraçado nele que era lugar de por lata d’água pra
pegar...
Era um
suporte grande assim que punha a lata d’água ali e abria a torneira."
(depoimento - Luiz Teixeira, agosto 2022)
...
"A Vó Nica dizia: - Vamos buscar uma água no
chafariz?!...
Mas meu pai não deixava"
"A Vó Nica tinha uma vizinha que morava na mesma rua
na
primeira casa depois da casa dos Quirino.
E ela e a comadre iam buscar água
no chafariz e também buscavam lenha no mato
onde hoje é o bosque do PEPS".
(depoimento - Solange Machado Monteiro -"Sossô", novembro 2021)
A Vó Nica chamava-se Ana Maria Machado - "Anita" casada com Antônio Machado - "Vô Machado", "Vô do Mauá" avós paternos da Solange e seu pai chamava-se Reinaldo Machado - "Tati", pedreiro muito conhecido na região.
O chafariz fica próximo à casinha que é o vestiário do campo de futebol.
Os moradores mais jovens dizem que o chafariz serve pra quem joga futebol beber agua.
Novembro 2021. ©Domitila Bercht
CHAFARIZES E TORNEIRAS PÚBLICAS
O chafariz é uma construção com uma ou mais bicas (canos, tubos) por onde corre constantemente a água que cai num tanque que na maioria das vezes faz parte de um conjunto arquitetônico, uma fonte.
A torneira pública é uma instalação simples para fornecimento de água potável com uma torneira que permite a regulagem do uso desta água e um mínimo de padrão de higiene.
O ABASTECIMENTO DE ÁGUA NO BRASIL
Antigamente as populações usavam a água de rios, riachos e córregos.
No Brasil Colonial algumas cidades, na falta de abastecimento de água encanada,
construíram chafarizes onde a população se servia e ali mesmo dava de beber aos animais.
Ainda se referindo às cidades, o abastecimento de água canalizada para as casas
foi acontecendo gradualmente e em algumas localidades instalaram as torneiras públicas.
Curiosamente as populações chamavam as torneiras públicas de chafariz mesmo que estas tivessem uma apresentação bem diferente deste importante patrimônio muito comum no século anterior.
Em nossa pesquisa encontramos informações sobre torneiras públicas localizadas em cidades no interior do estado de São Paulo datadas do ano de 1902.
Não encontramos informação sobre a instalação do abastecimento de água canalizada
neste arraial, a vila de Visconde de Mauá, localizado na zona rural, distante da cidade.
Meta Büttner lavando roupas no rio Preto.
© acervo Bühler
A região de Visconde de Mauá está localizada na Serra da Mantiqueira que é
especialmente rica em recursos hídricos.
O Núcleo Colonial foi instalado no Vale do Rio Preto, rio que une terras fluminenses e mineiras.
A sede do núcleo estava às margens do rio Marimbondo e rio Preto
e alguns lotes recebiam as águas de córregos.
Rio Preto, Vila de Visconde de Mauá. ©acervo família Frech
A DATA DE INSTALAÇÃO
É difícil dizer a data pois não encontramos até o momento nenhuma informação
sobre a instalação deste chafariz. .
HIME & C.
32 T.OTTONI 32
RIO DE JANEIRO
Sobre a fabricação uma curiosidade, a estampa no chafariz corresponde
ao endereço do escritório da Hime & C. no período de 1900 à 1908.
Em 1909 a Hime & C. muda o endereço de seu escritório que fica na mesma rua mas no número 52.
ENCONTRAMOS NA IMPRENSA
1900 - 1908 a HIME & C. informa seu endereço de escritório à rua Theophilo Ottoni, 32
Rio de Janeiro.
1909 a HIME & C. informa seu endereço de escritório à rua Theophilo Ottoni, 52.
FONTE:
Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial .Rio de Janeiro
BN DIGITAL - hemeroteca
Abril 2011. ©Domitila Bercht
A SEDE DO NÚCLEO
É importante lembrar que nesta área onde está o CHAFARIZ
foi a sede do Núcleo Colonial de Visconde de Mauá, criado pelo governo federal,
quando comprou em 1908 as propriedades que pertenciam ao
comendador Henrique Irineu de Souza, filho do Visconde de Mauá.
A área escolhida para a sede foi exatamente onde estavam localizadas as edificações da sede da Fazenda Central que pertenceu ao comendador.
Ali foram instalados escritórios técnicos, farmácia, hospedaria dos imigrantes etc e os lotes urbanos.
A igreja de São Sebastião que aparece nas fotografias era a capela
fundada em 1912 que tornou-se igreja em 1934.
Era ali a entrada da região, o principal ponto de chegada e de partida para a Capelinha e a cidade de Resende, como é até os dias de hoje.
É possível imaginar como um ponto de referência por onde passavam as tropas, os carros de boi, que traziam e levavam cargas. É, até os dias de hoje, ponto de encontro de cavaleiros sendo que alguns fazem travessias pela região. O chafariz certamente cumpriu a função de fornecer água aos viajantes e aos animais.
Nas festas da igreja e eventos, a gente que vinha de longe tinha ali água potável.
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Croqui do Núcleo Colonial Visconde de Mauá autoria de Alexandre Mendes da Rocha? 1980ca.
Observamos que neste croqui estão anotadas referências posteriores ao período da colônia.
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Março 2022. ©Domitila bercht
IMPORTANTE PATRIMÔNIO
É preciso o reconhecimento histórico e cultural para que se promova a valorização e a preservação deste bem como um patrimônio importante para esta localidade e sua comunidade.
É visível o descaso por parte dos gestores públicos, tanto no aspecto de sua conservação, manutenção e dos cuidados na área onde se encontra instalado.
Está totalmente abandonado às intempéries.
Sua torneira infelizmente vai ser sempre roubada porque o vandalismo está cada vez mais presente nesta comunidade. A torneira que não era a original mas era de metal foi substituída por uma de plástico. Enquanto isso não acontecia ficou tampado de forma precária e quando instalaram a torneira de plástico viraram na posição errada, um jeito que demonstra a falta de respeito para com este patrimônio.
Faço aqui mais uma observação porque sinceramente é bem preocupante a situação quando se imagina a possibilidade de alguém decidir "dar um trato" nesta peça.
Esta torneira pública, o chafariz, merece um tratamento aos cuidados de um profissional especializado.
Também em consideração ao seu valor poderia ser estudada a possibilidade de ao invés de "esconder" e reduzir sua importância no cenário em que se encontra, quem sabe criar um canteiro em formato de ferradura que marque o local onde ela se encontra,
com plantas baixinhas e flores de forma graciosa e bem apresentada.
Quando me refiro a canteiro não considero necessário nenhum tipo de mureta ou acabamento, simplesmente tirar a grama e tratar a terra. Um canteiro assim fica bem simpático e elegante e não tira a importância deste bonito chafariz!
Novembro 2021. © Domitila Bercht
FONTE DE PESQUISA
História & Outras Histórias por Marta Iansen.
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