em VISCONDE DE MAUÁ já havia COLÔNIAS em 1888

Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá
Nasceu em Arroio Grande RS em 28 de dezembro de 1813 - faleceu em Petrópolis RJ em 21 de outubro de 1889
Títulos nobiliárquicos: Barão de Mauá 30 de abril de 1854 | Visconde de Mauá, com grandeza 26 de junho de 1874

Seu filho, o comendador Henrique Irineu de Souza
Nasceu no Rio de Janeiro RJ em 24 abril de 1852 - faleceu em Petrópolis RJ em 26 de junho de 1929

O Visconde de Mauá. Mural, pintura de ©Tim & Ana Plant /Aldeia dos Imigrantes, Vila de Visconde de Mauá. 

1888  
 A  INSTALAÇÃO  DOS  NÚCLEOS  COLONIAIS 
 Visconde de Mauá e Itatiaya

Em dezembro de 1888 o governo contratou com o proprietário a instalação de
 dois núcleos coloniais nas fazendas  
Mont-Serrat, Itatiaya, Taquaral, Invernada, Cruz, Rio Preto e Ayuruoca.


O PROPRIETÁRIO 
 comendador Henrique Irineu de Sousa assumiu então uma série de compromissos

Para os COLONOS: o preparo e a venda dos lotes,
 fornecer alimentação à cada família até a primeira colheita, 
proporcionar os meios necessários para a construção de casa provisória.

Para a SEDE de cada núcleo reservar uma área de 200 hectares e
 nela construir casas para administração, escola primaria, 
capela e barracão para alojamento provisório de imigrantes.
A fazenda Queijaria teria sido escolhida como sede do Núcleo de Visconde de Mauá. (1)


O GOVERNO
por sua vez, prometeu construir estradas de rodagem, ligando as sedes dos núcleos às
 mais próximas estações da estrada de ferro, introduzir os imigrantes, e 
abonar ao proprietário, exclusivamente para construção de casas, derrubadas,
 ferramentas e alimentação dos mesmos.


OS IMIGRANTES
Em abril de 1889 foram localizadas as primeiras famílias de imigrantes,
 foram 10 no núcleo de Visconde de Mauá e 11 famílias no núcleo de Itatiaya.
Posteriormente foram estabelecidas mais 16 famílias, 
de modo que ficaram localizadas ao todo 37 famílias,
 sendo 29 italianas e 8 austríacas, com 185 pessoas.


1890
O  FIM  DOS  NUCLEOS  NAS  FAZENDAS  DO  COMENDADOR. 
O contratante, pois, não deu seguimento aos trabalhos da fundação dos núcleos, 
e o contrato foi rescindido, e as estradas não foram construídas, 
e os colonos se transferiram para outras localidades.
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VEJA TAMBÉM

COLONOS EUROPEUS no núcleo (1908-1916)
Em 1908 a criação do Núcleo Colonial Visconde de Mauá, quando o governo compra as terras do comendador Henrique Irineu de Souza. SAIBA MAIS
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ENCONTRAMOS NA IMPRENSA
"Forão inaugurados no dia 7 do corrente os dous nucleos coloniaes creados nas fazendas do Sr. Irinêo de Souza, em virtude do contrato celebrado com o governo imperial. Um dos nucleos situado na fazenda do Rio Preto, tomou a denominação - Visconde de Mauá, sendo ahi estabelecidas, 10 familias, lombardas, com 51 pessoas."    
FONTE: Jornal do Commercio (RJ) Ano1889\Edição 00107 in BN Digital - Hemeroteca

"Em Outubro de 1888, em virtude de deliberação do Sr. Ministro da Agricultura, o Inspector Geral das Terras determinou ao engenheiro Joaquim Adolpho Pinto Pacca, Inspector Especial das Terras e Colonisação no Espirito Santo, então nesta capital, que procedesse a exame nessas propriedades "afim de reconhecer si ellas possuem as condições apropriadas á colonisação"
 Está no archivo desta repartição o relatorio a respeito, apresentado a 16 de Novembro de 1888 por esse engenheiro, um dos mais competentes, se não o mais competente especialista, em trabalhos de colonisação, que tem tido este paiz.
As conclusões desse importante relatorio são as seguintes:
"As fazendas examinadas reunem os principaes elementos para o estabelecimento de nucleos coloniaes, podendo ahi ser localisadas mil familias de immigrantes.
"Devem ser fundados dous nucleos: - um com séde na fazenda de Mont-Serrat e em communicação com a estação Rezende"

Em vista do parecer do engenheiro Joaquim Adolpho Pinto Pacca, o Ministerio da Agricultura, em 14 de Dezembro de 1888, contractou com o proprietario, Sr. Commendador Henrique Irineu de Souza, a fundação de dous nucleos coloniaes nas fazendas Itatiaya, Taquaral, Invernada, Cruz, Rio Preto e Ayuruoca.
O contractante assumio as seguintes obrigações: medir até 400 lotes de 20 hectares e dentro de dois annos estabelecer até 400 familias, vendendo cada lote a 20$ por hectare para as primeiras 50 familias e 25$ para as restantes; mediante pagamento á vista ou em prestações por cinco annos, sem juros; a cada familia fornecer alimentação até a primeira colheita, proporcionando tambem os meios necessarios á construcção de casa provisoria, de custo maximo de 200$; reservar a áera de 200 hectares para a séde de cada nucleo, e nella construir casas para administração, escola primaria, capella e barracão para alojamento provisorio de imigrantes.
O Governo, por sua vez, prometteu construir estradas de rodagem, ligando as sédes dos nucleos ás mais proximas estações da estrada de ferro, introduzir os immigrantes, e abonar ao proprietario, exclusivamente para construcção de casas, derrubadas, ferramentas e alimentação dos mesmos, a quantia de 60:000$, entregues em prestações, á vista do numero de familia collocadas.
Em 5 de Janeiro de 1889, foi nomeado o engenheiro Adriano Xavier de Oliveira Pimentel fiscal desse contracto, sendo encarregado de proceder aos estudos precisos para construcção das estradas.
Em 7 de Abril de 1889, foram localisadas 10 famílias em o nucleo Visconde de Mauá e, tres dias depois, 11 familias no Itatiaya.
 Posteriormente foram estabelecidas mais 16 familias, de modo que ficaram localisadas ao todo 37 familias, sendo 29 italianas e 8 austriacas, com 185 pessoas.

Em relatório apresentado em Janeiro de 1890, o engenheiro fiscal opinou:
"A distancia relativamente pequena, entre a Capital Federal e a séde dos nucleos, conjuntamente com as magnificas condições de clima, com a abundancia e excellencia das aguas, constitue garantia solida, perenne, indestructivel de desenvolvimento destes dous centros coloniaes.
Mas, para que seja real essa vantagem e della se possa auferir os resultados praticos, desejados e previstos, é imprescindivel levar a efeito uma medida preparartoria: a construcção das estradas destinadas a ligar as sedes dos nucleos ás estações de Campo Bello e de Rezende, da Estrada de Ferro Central."

Informou tambem o mesmo engenheiro fiscal:
"A temperatura das localidades occupadas varia entre +4° e +30° do thermometro centrigrado: é, por conseguinte, o clima das regiões do Mediterraneo.
No alto da serra o limite inferior desce muitas vezes a -10° e ordinariamente a temperatura oscilla entre -5° e +20°. A salubridade  desta região é proverbial.
"Os immigrantes vindos directamente da Europa não soffreram com aclimatação a menor alteração na saude, facto este verdadeiramente singular na historia da colonisação.
" A colonia está no seu primeiro anno de installação, ensaia, por assim dizer, os primeiros passos; todavia o proprietario, e contractente, já considera as famílias, localisadas neste nucleo, aptas para viverem sobre si, sem auxilio.
Como prova material deste resultado excepcional, junto uma copia do ajuste de contas que o contractante fez com um colono, installado no lote n.3 com sua mulher e quatro filhos menores, desde Maio de 1889 até o principio deste anno, quando foi despedido do nucleo por ser turbulento e desordeiro.
A cultura do feijão, milho e batatas, principalmente, tem dado bons resultados.
Em termo médio, uma caixa de batatas plantadas produziu seis caixas de batatas de excellentes qualidades.
Ha em cada lote, dos occupados, de 700 a 1.000 pés de vinhas plantadas, que se acham, em geral, em excellentes condições.
Todos os colonos tiram do trabalho de horticultura legumes e verduras, que se abastecem com fartura.
A cultura da vinha, pelo que tenho observado, deve ser preferida a qualquer outra.
A cultura do linho já foi experimentada e deu bom resultado.
As macieiras plantadas vergam ao peso de fructos bellissimos.
Houve colonos que na primeira colheita de batatas realisaram lucros apreciaveis.
Auguro a estes nucleos um futuro prospero, uma vez satisfeitas as necessidades urgentes que assignalei."

Não podia ser mais completa a harmonia das informações apresentadas ao governo.
A mais urgente necessidade, indicada pelo engenheiro fiscal Dr. Adriano Pimentel, era a construcção de estradas de rodagem.
Conforme previra esse engenheiro, os nucleos não se manteriam se ellas não fossem cosntruidas.
O contractante, pois, não deu seguimento aos trabalhos da fundação dos nucleos, e o contracto foi rescindido, e as estradas não foram construidas, e os colonos se transferiram para outras localidades.

A respeito dessas terras encontram-se, ainda na obra "Le Brèsil" de Alfred Marc, (tomo 2°, págs.14 a 17) as seguintes referencias:
Il y a là une immense fazenda que l'on morcelle en ce moment pour y établir das colons et que est um vrai coin de Suisse.
Après trois heures de montée, on atteint le pittoresque vallon Coixos, où l'on trouve une grande plantation de pommiers, qui donnent à la perfection; láltitude est dejá de 1.888 métres.
L'altitude du pic des Aguilles Noires est exactement de 2.994 métres.
M.André Rebouças, qui y est monté em 1887 avec ses elèves de l'Ecole Polytechnique, dit que l'Itatiaya n'est pas seulement un Righi, ni um Washington: c'est un pic très élevé offrant des panorames infinis, c'est une region entière à peupler, un cauton suisse à proximité de Rio, d'où l'on vient par chemin de fer em quelques heures.
Les terrains de cette vaste propriété appartiennent à M. Irineu Evangelista de Souza (V. de Mauá) qui est en train d'y installer des Suisses, des Français et des Belges.

Em artigos publicados no Jornal do Commercio e impressos depois em folhetos, nos ultimos dias do mez de Abril de 1898, sob o título - Uma Excursão ao Itatiaya - o Dr. Cruls registrou, entre outras, as seguintes informações:
"Durante todo o trajecto, desde a fazenda de "Mont-Serrat" a vegetação vae successivamente apresentando modificações, cada vez mais accentuadas, até chegar ao Retiro, que se acha em uma pequena elevação, cuja altitude se verificou ser de 2.200 metros. R.I.
  A paizagem que ali se offerece á vista de quem, como nós, esperava encontrar nessas altitudes uma região accidentada e com pouca vegetação, causa verdadeira surpresa. Em logar disso, vê-se um campo ligeiramente ondulado, bastante extenso, coberto de excellentes grammineas, eminentemente proprias para pastagem do gado; pelas encostas das diversas vertentes, dessas mattas com frondosas arvores, e, em toda parte, terras proprias para diversas culturas.
A impressão, pois, que se experimenta ao descobrir uma natureza tão rica, em região geralmente tida como pobre e esteril, é profunda.
Antes de voltarmos para a fazenda "Mont-Serrat", fizemos uma excursão na serra, e tivemos ainda occasião de nos extasiar diante da pujança da vegetação naquellas alturas, e da fertilidade do solo, que deve se prestar ás diversas culturas apropriadas a este clima extremamente temperado.
No quadro infra encontram-se as altitudes que observamos para os pontos mais importantes:
Fazenda de Mont-Serrat  827m
Retiro  2.204
Itatiaya (2º pico) 2.801
Itatiayassú  2.841 
Aproveitamos a nossa excursão para determinar, pelo processo hydrotimetrico, o gráo de pureza das aguas do Itatiaya.
Escolhemos duas amostras, uma tirada de um corrego que existe na fazenda de Mont-Serrat, a 827 metros de altitude, e outro no Retiro, a 2.200 metros, tirada do ribeirão Itatiaya.
Verificado o titulo de solução empregada, achamos para gráo hydrotimetrico dessas aguas:
1ª amostra   1°,04
2ª amostra   0°,91
Estas aguas podem, pois, ser consideradas como eminentemente puras, pois a agua da Carioca que, no emtanto, é tida, e com razão, como muito pura, accusa entre dous e tres gáaos com o hydrotimetro.
Para as pessoas não familiarisadas com a hydrotimetria, lembramos que o gráo zero corresponde á agua distillada, e que cada gráo representa por litro de agua de 10 a 12 (approximadamente) milligrammas de saes calcareos, magnesianos, etc., que se encontram commummente nas aguas.
Sob o ponto de vista da temperatura é digno de nota que, sendo em geral, na parte mais elevada do Itatiaya, o gráo de humidade do ar relativamente pequeno, o organismo supporta perfeitamente as temperaturas baixas que ahi se encontram.
Acreditamos que no Retiro, a 2200 metros de altitude, temperaturas inferiores de seis gráos ás do Rio de Janeiro são mais facilmente supportadas do que nesta Capital, por causa da humidade que aqui reina.
Entre as temperaturas que tivemos occasião de notar durente a nossa excursão, citaremos as seguintes: na noite de 20 de abril, minimo +4°4; na 21 de abril, minimo +6°,5.
 No dia 21, ao meio dia, por cerca de 2500 metros de altitude, o thermometro, collocado à sombra, marcava 13°,5.
É provavel que a temperatura média annual no Retiro (altitude 2200 metros) não se afaste muito de +11°, valor obtido pela formula de E.Liais e admittindo um decrescimo de um gráo em cada 180 metros de augmento na altitude.
A impressão que todos nós trouxemos da nossa excursão foi das melhores.
É innegavel que o Brazil, e em particular o Estado do Rio de Janeiro, possuem no Itatiaya uma joia que nos parece não ter sido, ate hoje, devidamente apreciada pelos poderes publicos.
Hoje, com os caminhos que ligam Campo Bello ao alto do Itatiaya, e em sua maior parte simples picadas, transitaveis a cavallo sómente, o trajecto póde effectuar-se desde o Rio de Janeiro em cerca de 11 horas, sendo 51/2 horas de estrada de ferro até Campo Bello, 2 horas desta vila até a fazenda de Mont-Serrat, e 21/2 horas dahi ao retiro.
Uma boa estrada de rodagem, porém, não só diminuiria consideravelmente o trajecto, como facilitaria o transporte por meio de carros, permitindo assim que fosse esta encantadora localidade visitada, como merece, por grande numero de nacionaes e extrangeiros.
Varzeas, valles e campos ligeiramente ondulados, não faltam no Itatiaya, bem ao contrario do que geralmente se pensa; pois que a ideia que se faz dessa localidade é a de uma serra abrupta, quasi inaccessivel, e que se termina por um amontoado de rochedos dominando uma região esteril e desprovida de vegetação.
Que differença, porém, entre a opinião que corre e a realidade!"

FONTE: Relatórios do Ministério  da Agricultura (RJ). Ano 1909/Edição 00001(2). páginas 127-133
in BN Digital - Hemeroteca
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OUTRAS FONTES:
(1) Rocha, Alexandre Mendes da. Imigrantes em Resende: O Núcleo Colonial Visconde de Mauá (1908-1916).FUNARTE/PMR/Sandoz S.A.1884

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Detalhe da obra Retrato do Visconde de Mauá por Tim & Ana Plant, 2012
Esta obra, uma pintura com a técnica de "trompe l'oeil" é um mural  localizado na 
Aldeia dos Imigrantes na Vila de Visconde de Mauá.
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