Uma família de FERREIROS
de Schorndorf/Stuttgart na Alemanha para Visconde de Mauá!
FAMÌLIA FRECH
Pesquisa e edição ©Memórias da Vila / fotos: acervo família Frech
JOHANN REMIGIUS FRECH - schmiedmeister ( 27.09.1843 Ulm DE - 27.12.1911 Schorndorf DE)
Christiane Straif e Johann Remigius Frech. Alemanha
Johann era ferreiro profissional. Foi proprietário de uma fábrica de implementos agrícolas.
"No último quarto do século passado existia em Schorndorf/Stuttgart uma fábrica de instrumentos agrícolas. O proprietário dessa fábrica inventou uma máquina que facilitaria os árduos trabalhos do campo. Enviou à capital do país, Berlim, um seu auxiliar para que registrasse o invento. (?) a respectiva patente. O emissário fez tudo direitinho mas em seu nome próprio. Indignado o Johann Frech recorreu à justiça. Demandou vários anos e quando terminou havia perdido a causa e tudo quanto possuía." (in: Jornal A Lira /Cartas ao Simão. Resende 5 de novembro de 1961)
Casou-se com Christiane Straif e tiveram quinze filhos. Como mestre-ferreiro/schmiedmeister passou a profissão para dois filhos: Robert e Karl August.
ROBERT FRECH - schmiedmeister (12.11.1869 Degerloch DE - 14.11.1947 Schorndorf DE)
Robert Frech e família. Alemanha
KARL AUGUST FRECH- schmiedmeister/mestre-ferreiro (09.03.1884 Manholz DE - 04.04.1938 Resende BR)
Karl August na marinha mercante e, em seu trabalho na indústria metalúrgica em Stuttgart, Alemanha.
©Memórias da Vila/ fotos: acervo família Frech
Karl August, "Augusto" e sua esposa Regina emigraram para o Brasil, como colonos subsidiados pelo governo brasileiro com a profissão de agricultores. Chegaram ao Núcleo Colonial Visconde de Mauá em 1913 e aqui se estabeleceram. Karl August trabalhou como lavrador especialmente na pomicultura.
"Mauá não oferecia condições para o Augusto Frech, sustentar sua família. Desceu. Veio trabalhar como ferreiro com meu avô Nicolau Taranto. É dessa época que me lembro dele. Como havia me ficado a recordação que ele vinha segunda-feira, cedinho, a pé, de Mauá, trabalhava a semana inteira e voltava sábado à noite também, à pé, para visitar a família". (in: Jornal A Lira /Cartas ao Simão. Resende 5 de novembro de 1961)
Karl August trabalhando em sua tenda de ferreiro. Visconde de Mauá. ©Memórias da Vila/ fotos:acervo família Frech
Karl August e Regina Frech com a filha Helena ao colo, e a tenda de ferreiro. Vila de Visconde de Mauá, ca. 1929
©Memórias da Vila/ fotos: acervo família FRECH
Karl August instalou sua tenda de ferreiro próxima à sua casa e então exerceu a profissão de ferreiro atendendo as necessidades desta localidade.
"Enquanto a filharada ia chegando o Augusto Frech ia tentando aqui e ali. Assim é que pôs a própria ferraria em Mauá. Fabricava foices. De três velhas fazia uma nova. De pedaços de trilhos fazia as mais famosas da região. Carlos, o filho mais velho, aprendeu com ele o segredo da têmpera e ainda hoje tem sua fabrica de foices. Só que as faz de preferência, de molas de automóveis e caminhões e o seu malho é mecânico..." (in: Jornal A Lira /Cartas ao Simão. Resende 5 de novembro de 1961)
Karl August e Regina moravam na vila de Visconde de Mauá. Tiveram dez filhos e dois deles seguiram a profissão de ferreiro: Karl August F° "Carlos" e Ernesto Cezário.
KARL AUGUST FRECH F° , "Carlos" - mestre-ferreiro (15.12.1909 Schorndorf DE - 28.12.1979 Resende BR)
Karl August Frech F° "Carlos" à cavalo com seu filho Mauro, o primogênito: "O pequeno ferreiro e papai", Vila de Visconde de Mauá, 1937. Na foto à direita: Karl August. ©Memórias da Vila/ fotos: acervo família Frech
Karl "Carlos" mudou-se de Visconde de Mauá, com sua esposa Maria Fernandes, para Resende na década de 1930. Sua oficina de ferreiro era ao lado de casa, no bairro do Lavapés, na rua que hoje tem seu nome. Seu filho Mauro o ajudou nos trabalhos na oficina.
Era famoso na produção de foices, e reconhecido em toda região pela marca do F, que garantia a qualidade da sua obra.
F na foice produzida por Karl August, "Carlos". Visconde de Mauá. ©Domitila Bercht
"O pai, eu tenho uma lembrança. Sabe qual é?! O pai, uma vez o pessoal que tinha um armazém, então, eles estavam com um monte de foices e não vendia. Aí chamou o pai, não sei se já contei isso pra vocês, pro pai botar o F nas foices pra que vendesse. Por que o pessoal ficava procurando o F de Frech, e não via o F e não comprava. O pai disse: "Num posso fazer uma coisa dessas. Foi pra isso que me chamaram?!" Virou as costas e foi embora. Ele mesmo contava isso pra nós!" (depoimento Neuza Resende, mar.2023)
ERNESTO CEZÁRIO FRECH - mestre-ferreiro (05.10.1922 Visconde de Mauá - 07.02.2009 Resende)
Ernesto Cezário Frech aos 80 anos de idade, trabalhando em sua oficina. Resende, 2002 © Roseline Frech "Lena"
Ernesto tinha 16 anos quando seu pai Karl August faleceu, mas deixou a herança do ofício de ferreiro, a qual ele exerceu até os oitenta anos de idade. Como ferreiro foi aprendendo e se aperfeiçoando em diversas especialidades para a tender a demanda do mercado.
Ernesto com os funcionários da Cooperativa de Leite Agulhas Negras. Resende, década de 1950? ©acervo Família Frech
Mudou-se de Visconde de Mauá para Resende na década de 1940 e trabalhou na oficina de seu irmão Karl, "Carlos", no Lavapés. Trabalhou no setor de ferraria da empresa de Engenharia de Tácito Viana Rodrigues. Na década de 1950 foi trabalhar como ferreiro na Cooperativa de Leite Agulhas Negras.
©Memórias da Vila/ foto acervo família Frech
Ernesto casou-se com Maria Aparecida e ao lado da casa do casal, aos poucos construiu sua própria ferraria onde trabalhava nas horas vagas. Na década de 1970 saiu da Cooperativa para se dedicar a sua oficina, ampliando e comprando máquinas novas. Nos anos 80 seus clientes eram em sua maioria fazendeiros e avicultores. Sua especialidade era a produção de torquês de armador. Assinava com a marca F
Ernesto e Maria Aparecida tiveram cinco filhos, dois deles são ferreiros e exercem a profissão até hoje na oficina que o pai construiu: Ernesto Cezário F° e Luís Guilherme
ERNESTO CEZÁRIO FRECH FILHO - ferreiro (16.09.1960 Resende)
Ernesto Cezário F° na oficina e, sua produção de ponteiros de martelete para concreto. Lâminas para picadeira e facas. Resende, abr.2023 ©Domitila Bercht
Ernesto trabalha em diversas especialidades atendendo às demandas de fazendeiros dos arredores da cidade de Resende. Dedica-se também à produção de ferramentas para construção civil etc.
Sua marca é FF (Frech F°)
"Eu ajudava meu pai, batendo marreta, segurava o ferro, depois foi evoluindo. Quando ele fazia torquês, aí eu ajudava ele, moldava tudo, ajudava cortar e depois eu dava polimento nelas. Depois ele montava. Fui aprendendo com ele, não fiz curso, aprendi tudo com ele." (depoimento Ernesto Cezário F. Resende mar. 2023)
LUÍS GUILHERME FRECH - ferreiro (05.07.1965 Resende)
Guilherme se especializou, como seu tio Karl"Carlos", na produção de foices e utiliza a mesma logomarca F
Luís Guilherme na oficina e, sua produção de foices. Resende, mar.2023. ©Rosemary Frech
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A PRODUÇÃO NAS FERRARIAS DA FAMÍLIA FRECH
PARA AGRICULTURA - FERRAMENTAS E IMPLEMENTOS | PECUÁRIA E CRIAÇÃO DE ANIMAIS
ferramentas: foices, enxadas, machados, cunhas etc; carimbos de marcar animais; aros para ferração de rodas de carro de boi; ferraduras e cravos para ferragem de cavalo
"Ernesto e o pai Karl eram ferreiros, faziam foice e enxada" (depoimento "Zé Ana". Visconde de Mauá, 2016)
Karl August Frech (ao centro) com o martelinho na mão direita e com a mão esquerda está segurando o cravo sobre a ferradura para ferrar o cavalo Está com os filhos Gustavo(à esq.) e Karl August F°, "Carlos"(à dir.), diante de sua casa. Vila de Visconde de Mauá, final da década de 1920. ©Memórias da Vila/foto: acervo família Frech
"Faziam ferraduras. Ferravam cavalo e tinha um martelinho próprio pra isso. Batia o cravo, virava o martelo, torcia e depois dava acabamento."
[A bigorna] - "Aí põe pra moldar redondo, pra fazer uma argola, uma peça
redonda, um gancho. A gente fazia muito gancho de arado. Antigamente os carros
de boi, era puxado tudo no boi, então tinha as correntes com os ganchos pra puxar. A gente fazia muito. Acabou, agora num tem mais. Resende era muito assim na época da cooperativa. (depoimento Ernesto Cezário Frech F° . Resende, janeiro 2023)
" O produtor da Granja Rocha Klotz, em Penedo, sempre vinha com um novo desafio para Ernesto. Trazia um desenho de gaiola para pintinhos e Ernesto fazia com perfeição."
A FERRAÇÃO DE CARRO DE BOIKarl August e Regina, os filhos Augusto Frederico, Helena e Margarida. Visconde de Mauá, ca.1932. © Memórias da Vila/ foto:acervo família Frech
À esquerda a ferramenta utilizada para medir a circunferência da roda do carro de boi. Tira de aço, de mola, que se utiliza para o feitio do aro. Resende, abr.2023 © Domitila Bercht
" Uma lembrança muito gostosa da minha infância , na década de 60, 1966, 1967, por aí...era quando meu pai, nessa oficina que tinha ao lado da casa, tinha um terreno muito grande e meu pai de vez em quando, ele ferrava roda de carro de boi, e era uma festa pra gente, porque iam bastante crianças lá . Fazia uma baita duma fogueira em volta do aro de ferro e quando o aro ficava vermelho, eles iam lá com uma ferramenta e, colocar o aro na roda de madeira. nossa, era muito gostoso. Enquanto um ia colocando o aro, o outro ia jogando água pra num queimar. Era muito divertido nessa época. É uma boa lembrança que eu tenho!"
(depoimentos Rosemary Frech, "Meire" Visconde de Mauá, janeiro 2023)
"A gente ferrava. O quintal aqui era grande. Não tinha essa
casa. Só tinha isso aqui, uma ferraria que era de zinco. No começo era ali no
meio do quintal. Então aqui em Resende tinha muita fazenda, fazendeiros. Era
bem rural. Tinha carro de boi. Aí o pessoal trazia. Ia afrouxando, desgastando
que é um aro de aço que vai em redor da roda,. Dai a gente fazia um fogo,
botava uns tijolos e botava o aro em cima, e botava a lenha de um lado e do
outro pra fazer a fogueira e pegar fogo no aro. Daí ficava aquela fogueira
redonda. Aí depois que o aro estivesse bem vermelho, pegava as tenaz e pegava o
aro e, botava na roda. Tinha até minha mãe que ajudava com os regadores. Aí
botava, encaixava e meu pai ia batendo e a gente ia jogando água e ia pegando
água, pra não deixar queimar a madeira. Aí o aro ia contraindo, contraindo...ele
retrai. Tem que medir e cortar exatamente só uns centímetros,
senão ele volta a ficar largo. Essa ferramenta é pra medir a roda, vai rodando na roda e
fazendo a marcação. (depoimento Ernesto Cezário Frech F° . Resende, janeiro 2023)
AS FERRAMENTAS
Torquês bruta e torquês pronta. Produção de Ernesto Cezário. Resende, 2023 ©Domitila Bercht
"Essa é uma torquês bruta, depois ia dando o acabamento nela
e ficava assim. Meu pai vendia muito. As vezes tinha o pessoal armador procurava cinco, levava pra
revender. Era forte, estalava, cortava! Até pra fora chegou pra ir, tinha a Mendes Junior, a Gutierres" (depoimento Ernesto Cezário Frech F° . Resende, janeiro 2023)
Torquês, turquesa produzida por Ernesto Cezário. ©Domitila Bercht
"Uma de suas especialidades foi a produção de turquesas - torquês, feita artesanalmente com perfeição. Ficaram tão famosas que algumas delas foram parar em países no Oriente e no norte da África" (depoimentos Rosemary Frech, "Meire" Visconde de Mauá, janeiro 2023)
"O Ernesto fazia ferramentas e era conhecido por saber temperar muito bem.
A torquês era muito bem feita"
(depoimento Altair Coutinho. Visconde de Mauá, abril 2023)

Pinça para pegar brasa no fogão de lenha e ascender cigarro. Autoria Ernesto Cezário Frech. ©Domitila Bercht
Uma bonita lembrança de autoria de Ernesto Cezário Frech. Faca com cabo de chifre e bainha de couro feitio artesanal.
©Domitila Bercht
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NA CONSTRUÇÃO CIVÍL - FERRAMENTAS E FERRAGENS
Ferragens nas janelas e portas, autoria de Karl August. Pensão Mauá, propriedade da família Frech, fundada em 1929 na Vila de Visconde de Mauá. ©Domitila Bercht 2023
OS FORNOS: para FOGÃO DE LENHA e para SAUNA
Forno de fogão de lenha produzido por Ernesto Cezário F°. ©Domitila Bercht
CRUZES
Confecção de cruzes para sepulturas de familiares no cemitério de Visconde de Mauá. ©Domitila Bercht
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Em nossa pesquisa do ofício de ferreiro e a família Frech fizemos uma visita para entrevista com Ernesto Cezário Frech Filho, na bonita ferraria que foi construída por seu pai.
Nossos agradecimentos pela disposição em nos relatar sobre o seu trabalho, o de seu pai e de sua família de ferreiros. Sobre as ferramentas, a forja, a bigorna, os materiais etc.
E aproveito aqui para mais uma vez agradecer à Rosemary Frech "Meire" por sua vontade e interesse na construção das memórias de sua família que conta um bom pedaço da história desta localidade.
Ernesto apresentando como era feito o "cadear". Resende, 2023 ©Domitila Bercht
"Não tinha solda. Fazia tudo cravado. Meu pai cadeava também.
Cadear é pra emendar dois ferros. Quando
não tinha solda antigamente, bem antigamente, aí botava na forja e assim que
ele estivesse bem vermelho, unia os dois assim e jogava uma areia. Ia
rebatendo, tipo fundindo um no outro. Aí fica uma peça só!" (depoimento Ernesto Cezário F° Resende, mar. 2023)
A FERRARIA DOS FRECH
Na oficina, muita história!
Imagem de Santo Elísio, padroeiro dos ferreiros. O terço na porta do armário. A gravura de N.Sra. da Glória enquadrada na moldura de ferro que possivelmente veio da Alemanha nos pertences da família. Oficina dos Frech, Resende abr.2023.
©Domitila Bercht
"Meu pai era católico, tinha muita fé em N. Sra. Aparecida, da Glória. No dia de Santa Luzia, ele não trabalhava não!" (depoimento Ernesto Cezário Frech F°. Resende abril 2023)
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O REAPROVEITAMENTO DE MATERIAIS - FERRO E AÇO
"Augusto Frech ia tentando aqui e ali. Assim é que pôs a própria ferraria em Mauá. Fabricava foices. De três velhas fazia uma nova. De pedaços de trilhos fazia as mais famosas da região. Carlos, o filho mais velho, aprendeu com ele o segredo da têmpera e ainda hoje tem sua fabrica de foices. Só que as faz de preferência, de molas de automóveis e caminhões e o seu malho é mecânico..."(in: Jornal A Lira /Cartas ao Simão. Resende 5 de novembro de 1961)
Sr. Zézinho ajudante e Luís Guilherme forjando. Ernesto Cezário à direita. Resende. À direita o martelete mecânico que pertence à família há mais de 70 anos. Era da oficina do Karl "Carlos" no Lavapés e foi adquirido por seu irmão Ernesto.
©Memórias da Vila/ fotos: Roseline Frech e Domitila Bercht
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"No início, meu pai ia no ferro velho, tinha muita mola de caminhão quebrada, comprava e transformava em torquês, talhadeiras, ferramentas de corte. Depois meu pai começou a comprar o aço já pronto. De disco de arado, ele fazia lâmina de picadeira. Picadeira é a máquina que pica ração, cana, capim pra dar pro gado . Os fazendeiros da região tinha muito antigamente, agora não tem muito. Do disco de arado, disco de arado é aquela peça redonda que vai atrás do trator, que tem um aço muito bom. Então fazia as lâminas. Cortava tudinho e fazia as facas pra picadeira" [Ernesto F° referindo-se ao seu pai] Hoje em dia eles usam as lâminas de indústria. A nossa aqui era artesanal, de ferreiro mesmo.
E hoje, eles fazem frigideira de disco de arado. Então eles trazem aqui pra mim e eu ponho alça." (depoimento Ernesto Cezário Frech F° . Resende, janeiro 2023)
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ENCONTRAMOS NA IMPRENSA
Jornal A Lira. Cartas ao Simão
Trechos do texto estão inseridos neste post. Mas o texto completo encontra-se na postagem sobre a Família Frech SAIBA MAIS .....
VEJA TAMBÉM
álbum de família - FRECH. ©Memórias da Vila/foto: acervo família Frech SAIBA MAIS .....
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Citação de FONTE: BERCHT, Domitila/memoriasdavila.blogspot.com
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